segunda-feira, 17 de junho de 2013

O nascer.


Nas redondezas da praça Maciel Pinheiro, no centro do Recife, via uma menina correndo.
Tinha olhar felinos, era muito faceira.
Corria, saltitava com um grande livro preso entre os pequenos braços.
Guiou - me até uma série de antigos casarios. 
Estendia a mão e quase podia sentir seu toque, mas ninguém a via.
A jovem Chaya circundou - me e foi em disparada em direção a praça. 
Virei - me e vi algo que reluzia como o  mais límpido e puro ouro.
Os casarões encaravam - me.
Fechei os olhos e senti Clarice, a Pernambucana Clarice.
O instinto me disse que ali havia morado.
Aproximei - me do sobrado cor - de - rosa, com marcas de reforma superando o tempo passado.
Tinhas janelas retangulares, altas, largas.
Por uns breves minutos pude ver novamente a figura da menina de cabelos curtos e levemente loiros e olhos verdes amendoados com o livro aberto, prostrado sobre os braços, fascinada.
Eu estava no reduto de minha alma, finalmente havia encontrado meu lugar, havia encontrado minha luz.
Cinco passos para trás, mais afastada do que interditava a porta, concentrei - me e pude recriar, ali, o refúgio judeu existente.
Caminhei ao encontro da estátua da mulher imponente, sempre com sua máquina de escrever no colo, sua vida transmitida por letras.
Não conseguia assimilar tudo, olhava - a e sentia vontade de me desfazer em prantos, de estar eternamente em sua forte presença.
As maçãs do rosto bem marcadas, a falta de atenção de todos ao redor.
Eu chorava. E como chorava.
Chorava por tê - la encontrado, e por ter demorado para chegar até aquele local.
Chorava pelo sentimento de pertencimento que me envolvia.
Chorava por que meu peito foi inundado pelo existir.
Puxei o ar com toda força pra dentro dos meus pulmões, na tentativa de descolá - los para que a vida me tomasse.
E respirei. E nasci.