quarta-feira, 29 de agosto de 2012

100 vezes Nelson - Parte I

100 anos sem ter envelhecido - 100 anos de Nelson Rodrigues no último 23 de Agosto. Dia que marca o centenário do Shakespeare brasileiro: um grande leitor da alma humana.
Com uma extensa obra que falou de amor, futebol, política, paixão, fidelidade, infidelidade... e também um grande profeta de grandes transformações no Brasil.
O que Nelson Rodrigues faria se estivesse vivo hoje?
Essa é a pergunta que fica.
Como viveria Nelson no mundo 'atual'? Como encararia as mudanças ocorridas desde 1980, ano de sua morte?
Nascido na cidade do Recife - PE (meu conterrâneo!) em 23 de agosto de 1912. Muda - se para o Rio de Janeiro ainda na infância, com apenas 4 anos de idade.
Passou a frequentar a escola aos sete anos, e desenvolveu a leitura de forma muito rápida. Em 1920, algo marcou a infância do escritor: um concurso de redação, onde todos deveriam escrever sobre um tema livre e a melhor seria lida em voz alta, perante toda a classe. A professora quase vai ao chão com a composição do autor, que relatava a história de um adultério. "O marido chega em casa, vê a mulher nua na cama e o vulto de um homem pulando a janela e sumindo na madrugada. O marido pega uma faca e liquida a mulher. Depois ajoelha - se e pede perdão. Apesar de todo espanto causado ao corpo docente, não teriam como não reconhecer o talento do jovem.  Houve um "empate" e então a outra redação foi lida.
Presenciava muitas discussões dos pais causadas pelos ciúmes que o genitor sentia da mãe. Uma fuga para ele, foram os livros. No início, lia romances leves, mais logo foi partindo para leituras mais 'pesadas'.Os autores eram bem distintos, mas no fundo, os livros falavam de uma coisa só: A morte punindo o sexo ou o sexo punindo a morte.
O autor sentia falta do pai, muito envolvido com a política e o jornalismo. O irmão de Nelson, Mário filho, nessa época começa sua consolidação como repórter esportivo, e posteriormente é homenageado ao ter seu nome escolhido para ser o nome oficial do estádio do Maracanã.
Na segunda série do ginásio, em 1926, foi expulso do colégio batista, na Tijuca, por rebeldia. Contestava muito os professores, principalmente de português e história.
À medida que entrava na adolescência, ficava cada vez mais melancólico, mais depressivo, sentado pelos cantos e dizendo: "Eu sou triste!"
Nelson inicia sua carreira jornalística em 19 de dezembro de 1925, como repórter de polícia, ganhando 30 mil réis por mês. Tinha treze anos e meio, era muito alto e magro. Embora filho do patrão, não teve regalias e ainda comprou calças compridas para impor respeito. O jovem rapaz impressiona os colegas de trabalho pelo talento de dramatizar pequenos acontecimentos. Especializou - se em descrever pactos de morte entre namorados, tão comuns naquela época.
No dia 27 de Dezembro de 1929, vê seu irmão Roberto Rodrigues atender à mulher que havia estampado a primeira página do jornal, em um caso de desquite, e levar um tiro na altura do estômago. Nelson vê e ouve tudo aquilo. A primeira cena de violência brutal em sua frente. O seu irmão faleceu dois dias após o incidente.
Um profundo luto abateu - se sobre a família. E o escritor chorava desconsolado.
pouco mais de dois meses após a tragédia, é a vez do pai de Nelson, que sofre uma trombose cerebral . Morre dias depois,  de encefalite e hemorragia. Diante tantas desgraças em família, torna - se insuportável ali viver e mudam - se para outra casa.
A família Rodrigues tem seu segundo jornal fechado após a revolução de 1930, por apoiar Júlio Prestes e fazer críticas aos rebeldes da época. Pouco tempo depois, Mário, Nelson e Joffre vão trabalhar n"O Globo", sob o comando de Roberto Marinho.
Diagnosticado com tuberculose em 1934, segue para Campos do Jordão para tratamento. Foi a primeira da série de seis internações. A tuberculose leva seu irmão Joffre em 1936, aos 21 anos de idade.
Casa - se em 1940. No mesmo ano perde 30% da visão em sequela da tuberculose.
Por dificuldades financeiras, começa a escrever teatro. Sua primeira peça, "A mulher sem pecado"  entra em cena após muita insistência e luta. A repercussão do público foi quase nenhuma, mas lhe rendeu bons elogios de críticos da época.
Em Janeiro de 1943, escreveu "Vestido de noiva"  e enviou - a aos amigos. Um dos que receberam foi Manuel Bandeira. Apesar das inúmeras críticas positivas, não conseguia encená -la. Um diretor polonês agrada - se e resolve investir. Após oito meses de ensaios diários, finalmente no dia da estréia, o teatro está lotado, e ao fim, os atores agradecem ao público em meio a uma enxurrada de aplausos.Nelson não é visto por ninguém. Estava no camarote, lutando contra a dor de uma úlcera. Justifica - se dizendo que sentiu - se "um marginal da própria glória".
Em 1944 recebe a proposta de tornar - se diretor de Detetive e de O Guri. Aceita. Nessa mesma época escreve dois folhetins: Suzana Flag e Meu destino é pecar. Devido ao sucesso, logo após o lançamento de duas edições especiais do mesmo, lança Escravas do amor.
Nelson escreve "Álbum de família", reprovada pela censura em 1946. As opiniões dividiram - se a respeito do rumo da peça. Acabou que mesmo por proibida, sendo liberada apenas em 1965 e chegando aos palcos pela primeira vez em 1967.
"Anjo Negro" foi outro sucesso de publicação, mas não menos polêmico. Estreou em 1948 e permitiu a Nelson a aquisição de sua casa própria. "Senhora dos afogados"  também é proibida em 1948. Com duas peças interditadas, acaba por escrever "Dorotéia", considerada por muitos sua obra prima teatral.

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